terça-feira, 2 de setembro de 2008

X – A Roda da Fortuna, o Destino

Abordagem Visual

A amarela roda búdica, central, em contraste com o fundo violeta da carta, juntamente com os raios e os três animais bizarros presos (?) a mesma dão o tom desta lâmina. Ao fundo, meio apagado, há um triângulo de onde saem os raios ondulados que preenchem o espaço e acima um círculo onde as estrelas parecem pousar.

Mitologia e Tipologia

Temos três símbolos relevantes aqui: a roda, os três animais e os raios de Júpiter romano, ou Zeus grego.

Sempre tida como símbolo do deslocamento, da libertação das condições de lugar e do estado espiritual, dos ciclos e seus reinícios, das renovações, a roda sempre é um símbolo solar, em todas as tradições. Harris a desenha aqui como a roda que o Buda coloca em movimento, ou seja, a *Roda da Lei, o dharmachakra – a lei do destino humano, que porque assim é, não existe nenhum outro poder que seja capaz de inverter o sentido de rotação dela... Nesta linha de pensamento, encontramos então a Roda da Existência do Budismo tibetano que nos lembra que as mutações incessantes representam a sucessão dos estados múltiplos do ser: o samsara (fluir com) ou segundo Blavatsky, ‘ a corrente rotatória da existência individual’. Já Nichols a apresenta como sendo ‘ um recipiente que segura toda a natureza dentro de certos limites prescritos e, inversamente, como a própria fonte de energia com a qual podemos conscientemente transcendê-lo.’ Visto como mandala ou rosácea, Jung relacionava este símbolo ao self do homem transposto ao plano cósmico, ou seja, a unidade na totalidade. Centro místico ou cósmico, de qualquer forma, estamos sempre presos a ela. Tortuoso é o caminho da eternidade, já disse Nietzsche...

Aqui os animais, como em quase todos os tarôs de base, denotam tanto a tríade nascimento – envelhecimento – morte como a encarnação dos arquétipos dos animais retratados, aqui então como Anúbis, o deus com cabeça de cão que pesava a alma dos mortos, que ascende, Esfinge ou o arquétipo da mãe negativa, que está no topo e Tífon, deus da destruição/desintegração, que descende. Notar aqui que em Crowley, ao contrário de Marselha, a disposição descida-subida é *diferente. Segundo Nichols, a Esfinge aqui pode ser relacionada ao papel da feiticera Srinmo na roda da vida tibetana, ou seja, a dominadora cruel, o demônio feminino da morte, dando ao princípio feminino o poder implacável e monstruoso das fortunas rotativas da espécie humana. Anúbis, como divindade psicompômpica, simboliza a implacável acuidade do olhar justiceiro, ao qual nada escapa e que vela pela estrita execução dos ritos e leis humanas: ele é quem tenta equilibrar as forças adversas para fazer vitoriosas as forças da luz. Tífon, tão forte ou mais do que Zeus, meio homem, meio monstro, era tão alto que sua cabeça tocava as estrelas e suas mãos tocavam tanto o Oriente quanto o Ocidente. Conta a lenda que até hoje ele dorme sob o vulcão Etna, cujas chamas seriam seu vômito. Ele foi gerado pelo ciúme e vingança de Hera - por Zeus ter parido Atena – e assim vem violentamente para chocar-se contra o ideal de sabedoria desta última, personificando os sobressaltos de animalidade, vulgarização, embrutecimento, a suprema oposição ao espírito! Ou como lembra Jung, ‘ é a recusa da sublimação e a cedência as pulsões intrínsecas de violência.’ Tífon, o insurgente, é interpelado pela Esfinge no giro, que lhe pergunta: Quem és tu/ O que tu és? Nada sei, ele responde, porque eu só ajo e, imediatamente vem Anúbis para polarizar sua atitude. Ad eternum.

Júpiter/Zeus é o deus grego/romano supremo, divindade do céu, da luz diurna, do tempo que faz, dos raios e trovões. Na iconografia é representado pela roda como principal atributo! Astronomicamente, o planeta Júpiter ocupa o centro dos astros que giram em torno do Sol, encarnando na astrologia o princípio de equilíbrio, ordem, estabilidade, legalidade social, preservação da hierarquia estabelecida, ou apenas grande benfeitor. Por estas inúmeras razões, nada mais justo termos Júpiter como planeta deste arcano. Os raios, seus atributos, que aqui finalizam nas estrelas, simbolizam seu poder criador e destruidor.

Quem move a roda então são estas duas energias: Ação e Reação, Bem e Mal, girando e dando movimento á nossa vida. E, se as nossas vidas estão ligadas a um cíclico ir e vir de acontecimentos, sobre os quais não temos controle nenhum, não estamos presos a ela. Neste ponto, quem compreendeu isso pergunta: Quem sou eu para que isto tenha me acontecido? Mas quem está na beirada dela, tentando agarrar-se para querer seguir na espiral lamenta-se: Porque eu? Porque isso sempre me acontece ?

Quais são os nosso eternos retornos? Porque sempre estamos no mesmo caminho sendo atingidos pelas mesmas personas? Como esta Gestalt me atinge? Milagrosamente não fugimos ao destino tentando nos afastar dele, como fez Édipo, mas sim, tomando consciência do que atraímos e afastamos de nossa experiência em função de condicionamentos, julgamentos e pré-conceitos. Livres? Só mudando nosso ponto de vista, pensando de forma espiralada, não cartesiana. Deixando a roda girar, apenas colocando combustível, e lembrando que mesmo em Marselha, até este movimento é um não—movimento, haja visto que a roda está fixada...no mar...!

* Recomendo o filme A Roda da Vida, por Lama Padma Samten, onde ele explana a simbologia da mesma (aqui os três animais serão Javali, Galo e Cobra ou ainda nascimento, vida, decrepitude e morte) sob o ponto de vista budista tibetano. Interessantíssima a relação com a individualidade, através da separatividade.

Cabala: Kaph - Palma da mão

Astrologia: Júpiter - Sorte, abundância, crescimento.

Número 10: Site sobre símbolos, excelente!

Compreensão Divinatória

Num nível profundo, parta do princípio de que tudo tem a sua razão de ser, mesmo que o sentido esteja oculto agora. Talvez ele fale sobre um caminho que corresponde à essência profunda do seu ser, porém não necessariamente como você havia controlado experenciar...Daí vem um dilema, pois geralmente sofremos quando algo se manifesta diferente do que imaginávamos, e não reconhecemos que essa experiência era exatamente o que faltava para a nossa felicidade, por corresponder profundamente à nossa essência. Ela recomenda:

- sentir um sentido de destino, usar o que as chances oferecem, deixar-se levar pela vida – seguindo o fluxo, achar oportunidade num evento sem sentido, abrir-se a sorte, sentir a ação do destino, acolher os milagres diários.

- estar num turning point, mover-se numa direção totalmente oposta á inicial, alterar o curso presente, deixar-se surpreender com alguns eventos.

- sentir o movimento, experimentar a mudança, entrar de cabeça nos novos desenvolvimentos, estar envolvido.

- ter uma visão pessoal, ver como as coisas se conectam, ficar mais esperto, descobrir padrões e ciclos, expandir seu conhecimento e contatos, ganhar uma perspectiva maior, descobrir seus propósitos e ideal de vida.

Complementação na Leitura Divinatória

- Dois de Espadas: estar num impasse.

- Quatro de Espadas: descansar, estar em paz.

- Quatro de Ouros: ação bloqueada, sem movimento.

- Sete de Ouros: análise antes de mudar a direção.

- Oito de Paus: desenvolvimentos rápidos, muito rápidos.

Um comentário:

Anônimo disse...

Querida Fabi,

Lindo Texto! Confesso que fiquei surpreso com o relato do Anúbis subindo a roda. Imediatamente fiz uma pesquisa e é verdade, Hermanubis, embora Harris tenha dado ênfase às aparências símias, é o próprio Anupu! Muito interessante, sempre temos muito o que aprender, e sou grato à você por compartilhar!

Fiquei muito contente com os elogios! Tomara que eu possa honrar este veio de ouro, por isso estou com o compromisso de vencer minha crítica ferina e me permitir ser livre!

Infelizmente, o meio tarológico-esotérico é assim, e piora tanto mergulhando num sentido mais mágico (ordens e afins) quanto no sentido mais "mancia".

Agosto acabou, e com ele logo logo acabará o inverno. Me inspirei a um novo post, onde dou uma continuidade ao post anterior, e tua colocação sobre as ditas situações. Mas desta vez resolvo perseguir a mim mesmo, e vou adiante com os Florais de Bach, chegar num equilíbrio do meu "Beech". Quando a crítica pende pra intolerância, esbraveja-se uma causa infundada.

Então a colocação que fizeste veio bem a calhar, até como um sobre-aviso. Não pude ler ainda o teu Eremita, pois corri muito por aqui, mas agora o lerei. E como estávamos partindo do Ajustamento, entendi que o momento pedia que direcionasse a espada pra mim mesmo. Sobretudo, a de manter a coerência antes de lidar com as pessoas. Prefiro admitir meus defeitos, como foco de autoconhecimento, para trabalhá-los. E confesso que o texto que colocou também é um alerta para mim. Vença a si mesmo, se ponha coerente, e não seja uma encarnação de um deus. Afinal, ego esotérico é um dos mais difícieis de lidar.

Grato pela Sincronicidade, Grato pelos teus textos, e grato por compartilhar conosco todos os teus estudos, pesquisas, e paixões na web! É com orgulho que agora tenho você na minha Realeza!

Abraços Adáshicos!

PS: Fique à vontade pra usar os textos quando precisar!