domingo, 31 de agosto de 2008

IX – O Ermitão, Eremita


The individual has always had to struggle to keep from being overwhelmed by the tribe. If you try it, you will be lonely often, and sometimes frightened. But no price is too high to pay for the privilege of owning yourself.

Nietzsche.

Abordagem Visual

Vemos uma figura cilíndrica que só notamos ser um ser humano (sem rosto visível) em função da mão que sai de sua túnica vermelha, localizada bem no centro da lâmina. Este parece ter já uma idade avançada em função da curvatura de suas costas e de seus cabelos brancos. Esta mão segura uma lâmpada em formato de diamante cujo centro assemelha-se a um sol e atrás dele segue um cão com três cabeças. Ao seu redor convergem feixes de trigo maduros na cor verde. Um espermatozóide gigante e um ovo órfico com a serpente enrodilhada vêm de encontro ao seu corpo. Os tons de amarelo dos feixes de luz triangulares sobrepõe-se sobre o vermelho e verde principais.

Mitologia e Tipologia

O enamorado da sexta casa vira o condutor do carro e choca-se na primeira curva com a justiça, que lhe avisa que o equilíbrio rigoroso é a primeira lei do mundo. A fim de resolver esta nova ambivalência, ele escolhe a via que lhe propõe este Eremita. Na tradição hermética, vemos aqui Hermes Trismegisto (Hermes três vezes grande), cujos romanos denominavam Mercúrio e os egípcios Thot, os ingleses Merlin e os germânicos Odin.

Os símbolos centrais, da mão com a lanterna, Cérbero e os elementos de fecundação, são fundamentais no entendimento da lâmina. Aqui a mão é a tomada de posse, afirmação de poder sobre a luz. Já estando fechada, segundo os budistas, é o símbolo da dissimulação, do segredo, do esoterismo e esta, aqui a esquerda, é tradicionalmente ligada á justiça, ao não agir, a sabedoria. Símbolo da iluminação e da clareza de espírito, a lanterna pode ser a de Diógenes, que buscava durante o dia um tal homem em Atenas e só encontrava tolos, ou a de Trismegisto, que realmente encerrava a luz velada da sabedoria. Aqui, a luz solar - consciência - deve permanecer confinada por enquanto, pois estamos falando do enlightement budista, que é individual e intransferível e só conseguido através da busca solitária que este eremita empreende. Esta luz é relacionada com a obscuridade para simbolizar os valores alternantes ou mesmo complementares da evolução do indivíduo e, aqui, serve somente a quem a carrega, a mais ninguém, pois provavelmente irá ofuscar-lhe a vista - nem todos estão na mesma path...

Logo atrás vemos Cérbero ou Cão de Hades, entidade animalesca que proíbe que os vivos entrem no inferno e que os mortos saiam, e que apenas Hércules (força) e Orfeu (empatia) conseguiram dominar. Símbolo do guardião do inferno, figura muito apropriada para nosso inferno interior, nosso inconsciente regressivo...Sua dominação sempre era realizada externamente ao seu habitat, ou seja, somente através de uma violenta mudança de meio ambiente ou da utilização de forças pessoais, de natureza espiritual – analítica podemos vencer este páreo. Nas palavras de Chevalier: ‘Para derrotá-lo, não se pode contar senão consigo mesmo.’ Os elementos de fecundação, como o ovo órfico e o espermatozóide, podem ter significados de totalidade, da dualidade yin yang, início e fim, ou como processo de renascimento. O ovo surge em geral depois do caos, como um primeiro princípio de organização, o que aqui se faz necessário, já que estamos falando, psicologicamente, da carta da individuação junguiana. O ovo confirma e promove a ressurreição! Não um nascimento, posto que já estamos aqui, mas um renascimento, uma repetição. Aqui também cabe então o simbolismo do ovo filosófico, aquele que contém o germe de uma nova vida espiritual...Diferente desta vez, caso tenhamos realmente nos tornado nós mesmos... O espermatozóide encerra em seu simbolismo o impulso criador, a energia vital masculina e regenerativa.

Todos necessitamos sentir apaixonadamente alguma coisa, encontrar significado e propósito como parte de um plano grandioso do universo, que seja infinitamente superior á vida mundana que levamos; queremos ser especiais na engrenagem infinita, e ele, o Eremita, é o processo arquetípico da individuação que todo temos que experienciar para sentirmos este enlevo, tornando-nos quem somos. Este é o sentido de pertencermos ao caldo universal - nos tornarmos o nosso único eu, sermos Unificados! Jung disse que quem olha para fora sonha, quem olha para dentro acorda, e esta é a função da caminhada de solitude (não de solidão) do eremita. Ir-se em busca de si mesmo, com uma pequena luz – que ele deve proteger férreamente – com o desapego de quem acho que sou o que acham que devo ser.

Enquanto o Papa nos prescreve a experiência, o Eremita ousa ela. E esta ousadia é premiada com um novo rumo na vida, com certeza muito mais vibrante e mais feliz do que o anterior. Eu me ouço, eu me vejo finalmente!

Cronos, filho de Urano, não Chronos, o Tempo, foi o deus grego colocado por Burke na lâmina nove de seu tarot mitológico. Ele cortou os testículos do pai, e, casado com Réia, devorava seus filhos quando nasciam. Zeus, seu filho, cansado desta atitude, retorna a casa paterna e imobiliza seu pai, acorrentando-o. Aqui levarei em conta o mito de Cronos que fala que apenas após a mutilação, e das provas que ele passou que foi desempenhar o papel de rei bom de um país e período lendário. Ou seja, o deus mutilado simbolizaria a sublimação dos instintos e sua utilização em prol de um período ideal, perfeito. Também a imagem de Cronos acorrentado simboliza a inexistência ou a suspensão do tempo, com o qual ele sempre se rebela – onde segundo a autora – a lição do tempo e das limitações da vida mortal tornam-se seu maior aprendizado...

Cabala: Yod – Mão.

Astrologia: Virgem - Exatidão, confiabilidade, ascese, concentração, colheita.

Número 9: Site sobre símbolos, excelente!

Compreensão Divinatória

Num nível profundo, faça deste um momento de introspecção consciente para descobrir o que você realmente quer e não se deixe influenciar por ninguém. Trate de suas forças internas antes de arriscar a dar um passo na direção do novo. Ela recomenda:

- ficar introspectivo, deixando as coisas acontecerem, concentrado somente nos sentidos, precisando entender.

- buscar grande compreensão, querer a verdade acima de qualquer coisa, desejar uma nova direção.

- receber uma direção, um guia, aceitar/oferecer um conselho sábio, aprender/ser um guru, ajudar ou se ajudado.

- buscar isolamento, precisar estar só, experenciar a solitude, deixar para trás as distrações, isolar-se num mundo particular.

Complementação na Leitura Divinatória

- Amantes: estar num relacionamento, sexualidade

- Mundo: envolvimento com o mundo

- Sacerdotisa e Quatro de Copas: buscando, olhando internamente

- Dois de Copas: fazendo conexões, parcerias

- Três de Copas: estando num grupo, com outros

- Nove de Copas: prazeres sensuais

- Oito de Copas: buscando um entendimento profundo

- Quatro de Espadas: contemplando em quietude

- Sete de Espadas: ficando sozinho, longe dos demais

Um comentário:

Anônimo disse...

Fabi das suas Liliths interiores eremíticas!

Gostei, como sempre, bem completo!! Desculpe a ausência, mas o corre-corre aqui está intenso!

Sou grato por seus comentários no meu blog, sempre acrescentam um norte e uma luz ao jogo!

Quanto ao Eremita, a frase "com o desapego de quem acho que sou o que acham que devo ser". Estou passando exatamente por esta experiência. Fui jogado num momento em que tudo o que eu sabia sobre mim mesmo desmoronou como um castelo de areia, e uma nova paisagem está se descortinando.

O que atrapalha o caminho interno de um buscador é o que os outros pensam dele, mas também o que ele pensa sobre si mesmo; meditação é não-pensar! E este é o caminho do enlightment!

Abraços Adáshicos de seu amigo "um pouco perdido"!