quinta-feira, 11 de setembro de 2008

XI – A Volúpia, Força, Luxúria, Persuasão


Abordagem Visual

Uma carta em tons quentes, onde uma mulher nua cavalga languidamente uma criatura de sete cabeças que lembra um leão, por suas patas. Na mão esquerda ela tem as rédeas enquanto segura com a direita o que pode ser um útero. Ele é o divisor dos ambientes; pois acima da linha, com ele, vemos dezenas de serpentes-espermatozóides. Abaixo dela, ao fundo, vemos faces, mãos e partes de corpos na cor violeta.

Mitologia e Tipologia

São dois os elementos que aqui demandam uma interessante análise: a criatura leonina que a mulher nua cavalga e o útero rodeado de serpentes, como um cálice.

O leão entre os animais – Krishna, o leão dos Shakya – Buda e o leão de Judá – Cristo, é garantia do poder material e espiritual, servindo muitas vezes inclusive de montaria a algumas divindades. Poderoso, solar, encarnação do Poder, Sabedoria e Justiça, pode também estar pleno de Hybris e Confiança. Aqui vale a analogia com a astrologia, que denomina o período do meio do verão no hemisfério norte, caracterizado pelos raios quentes do Sol (seu regente, inclusive), como regido pelo signo de Leão. Seu elemento é o fogo e a este tipo zodiacal, digamos, corresponde uma natureza forte, apaixonada, hercúlea. Aqui na lâmina, o leão é domado pela vesta – feito heróico – representando então a força moral, a bravura que domina as adversidades, a liberdade de ação e a confiança em si mesmo.

Ele está subjugado aqui porque não podemos deixar nosso animal interior ás nossas costas - a mulher nua (despida das vestes da sociedade, do valor imposto ) o cavalga, ou seja, é é a vitória do espírito livre sobre a matéria que significa não uma destruição, mas uma sublimação dos instintos, ou seja, quanto mais pudermos trazer para a luz nossas pulsões destrutivas, menos estaremos compelidos a nossa auto-destruição, através das raivas manifestadas em nossos corpos através de doenças psicossomáticas, brigas diretas que podem evoluir até para guerras sociais... Nosso instinto não pode ter livre-arbítrio pois dado este poder, ele poderá voltar-se contra nós. E aqui o papel de guia é uma mulher, o inconsciente, que parece ser muito íntima, conhecida deste ser leonino, afinal, está nua e á vontade sobre ele. Em Marselha a mulher está abrindo/fechando a boca do leão, numa aproximação tranquila, ambos estão á vontade, em uma quase-dança. A lição aqui é clara: temos que encontrar um jeito – delicadamente – de caminhar lado a lado com a nossa natureza animal em pacífica amizade e companheirismo. Apenas aceitando a nossa alma animal, como disse Jaffé, estamos na condição da totalidade e de uma vida plenamente vivida.

E não é por acaso que a nossa sensual mulher também sustenta um útero, prestes a ser fecundado pelas serpentes-espermatozóides. A energia animal, natural, integrada de forma saudável em sua espiritualidade e intelecto, é então orientada á criação, que pode ser tanto pontual, materializada em uma nova vida, um novo projeto, um novo relacionamento ou pessoal e íntima, na nossa própria transcendência.

Liz Greene já coloca Hércules como persona central, juntamente com seu leão de Neméia, sua primeira façanha. Conta o mito que ele se submeteu a estes 12 trabalhos para expiar os assassínios cometidos durante o acesso de loucuras provocado por Hera. Este leão era um monstro invulnerável, irmão da Esfinge, que devorava os habitantes e seus rebanhos. Hércules não conseguiu aniquilá-lo com suas flechas e então entrou em sua caverna e lá, com as próprias mãos, segurando-o pelo pescoço, o estrangulou. Penso que aqui matar definitivamente nosso leão interno não é a melhor saída, pois reprimindo assim nosso lado animal, sem transformá-lo, viveremos sem paixão, sem raiva – necessária – e sem uma identidade verdadeira. Cordeiros mansos, autômatos, mas então cheios de pulsões neuróticas...

No Oriente, o leão tem profundas afinidades com o dragão, com o qual muitas vezes se identifica, desempenhando uma proteção contra as entidades maléficas. Por esta razão, em função da caverna acima e desta analogia, lembrei-me de uma passagem de o Poder do Mito onde Joseph Campbell comenta que o dragão é o atrelamento de si ao seu ego. Ou seja, estamos assim aprisionados em nossa própria caverna de dragão e o objetivo de uma análise profunda é desintegrar este ser para que possamos nos expandir num campo maior de relacionamentos. O último dragão, segundo ele, é o nosso ego. E quem ele é? Oras, é o que achamos que queremos, o que achamos que podemos enfrentar, o que decidimos amar, aquilo a que nos julgamos ligados. Pode ser tudo muito pequeno, e então, nosso ego nos manterá lá embaixo. E se fizermos o que nossos vizinhos, nossos imperadores, papas e imperatrizes disserem, o rebaixamento será maior. O dragão oriental é jubiloso, ruge, é cintilante, rico. O ocidental ao qual estamos relacionados arquetipicamente é sovina: guarda tudo que acha que tem valor dentro da sua caverna úmida. Mas não sabe o que fazer com isso, pois é...um dragão. Guarda, acumula, parasita e fere os incautos com sua língua em brasa e seu vômito quente. Não vive e tampouco doa, é um vampiro. Como sair desta encrenca? Cada um de nós terá a sua resposta, mas a que tenho tatuada em minhas costas diz apenas: follow your bliss. Ou como respondeu Campbell á pergunta de Moyers, sobre como fazer para destruir o dragão dentro de si: ‘ Persiga a sua bem-aventurança. Descubra onde ela está e não tenha medo de segui-la’.

Porque ao fim, ao salvarmos a nós mesmos, salvamos o mundo!

Cabala: Theth – Cobra.

Astrologia: Leão - Alegria de viver, vitalidade, coragem.

Número 11: Site sobre símbolos, excelente!


A partir deste post, a Compreensão Divinatória e a Complementação na Leitura Divinatória estarão acessíveis a um click!

Um comentário:

Anônimo disse...

Hello again!

"Penso que aqui matar definitivamente nosso leão interno não é a melhor saída, pois reprimindo assim nosso lado animal, sem transformá-lo, viveremos sem paixão, sem raiva – necessária – e sem uma identidade verdadeira. Cordeiros mansos, autômatos, mas então cheios de pulsões neuróticas..."

A sociedade como um todo tenta o tempo todo em sua inserção política e cristã nos transformar em cordeirinhos mansos. Se observarmos as várias manipulações políticas, este é o resultado almejado - O que coloquei quando expus as Virtudes Teologais no post sobre Prosperidade, aliás, bem sincronístico ao simbolismo de Hércules, que derrota o Leão.

Na verdade, quanto mais cordeirinhos inocentes e burros nós formos como um todo, mais aqueles que estão no poder permanecerão no poder...

Aí entra sutilmente um símbolo da Prostituta Sagrada que Crowley falava, e casa com o seu Arcano XI. Aonde o conhecimento se prostitui para que se mantenha os ideais dos grandes. Contaminam o desejo dos menos favorecidos, para que os desejem no trono, ao invés de desejarem o trono.

Não que eu pense em virar herói, estou mais pra Eremita do que pra qualquer outro arquétipo!

Abraços

Adash