sábado, 29 de março de 2008

0 - O Louco, Le Mat

I must create a system or be enslaved by another mans;

I will not reason and compare: my business is to create.

William Blake.


Abordagem Visual

Conforme Vasques, Le Mat é a contração de maditus, particípio passado de madere, umedecido, no sentido de "estar tocado", um pouco embriagado. Também em árabe pode ser o sentido de "não poder se mover do lugar em que se encontra sob pena de ser morto", assim em árabe e persa, temos shah mat ou o rei está morto. Le Fou significa fogo, energia. Ainda Il Matto em italiano ou The Fool em inglês, aqui temos o homem em seu estado puro, inocente. O arquétipo do Bobo (ou Trickster), depois da Velha Grande Mãe é uma das personificações arquetípicas mais disseminadas no mundo. Outros são os da Grande Mãe e Pai, da Criança Divina, do Feiticeiro(a), da Virgem e do Jovem e da Guerreira-heroína.

Frieda cria um Louco parecendo um grande duende verde, com ares de criança grande no centro e, ao seu redor, objetos que são o potencial de todas as coisas. Segundo Chevalier, Le Mat é quem caminha na frente - com uma evidência solar - sobre as terras virgens do conhecimento, para além das cidades dos homens. Com o número zero coroando seus atos, ele é o limite da palavra, o Nada Absoluto, a presença superada, que se transforma em ausência, o vazio. E se ele é o vazio, é ele que vai separar o ciclo completo do ciclo que vai começar. O start.

Vestido de verde, com sapatos amarelos (cor do Sol e de Aleph) no estilo bufão medieval, pode ser a encarnação da lenda pagã do Green Man (Jack-in-the-Green), que aparece nas festividades inglesas e irlandesas, através do April Fool´s Day, que comemora a chegada da Primavera. Tem em sua cabeça dois pequenos chifres, alusão a Dionísio Zagreus (em seu estado bode) e entre eles, um cone de luz branca, que pode representar algum tipo de influência espiritual. Nas mãos tem um cristal e um galho de pinheiro vermelho (símbolos do crescimento mineral e vegetal), as uvas em seu lado esquerdo retomam o símbolo de Baco Dionisio e o saco com moedas azuis contém os símbolos astrológicos (materialização dos princípios originais). Há a pomba (Vênus ou o Espírito Santo) antes da borboleta (renascimento e leveza), o abutre Maat, o caduceu (equilíbro entre as tendências opostas) e o Sol em seu sexo (geração de vida). O tigre na perna esquerda é o cão de Rider-Waite e Marselha, que aqui aparece como referencial instintivo para que o louco não saia em disparada, já que não tem critérios nem temores. Duas crianças entrelaçadas a seus pés (inocência e pureza), abaixo das flores de lírios (inocência), mostra que estas qualidades são essenciais e intrínsecas para o início desta jornada.

O Louco em Crowley está dentro de um círculo ovalado amarelo, e externamente vemos a cor azul onde, em sua base o espreita Sebek, o crocodilo que era o símbolo egípcio da fertilidade adolescente. Poderíamos dizer então que ele está no óvulo, no ovo matriz. Lá fora, o útero materno, a água da vida. O mundo lhe aguarda.

Cabala: Aleph, que significa boi e é semelhante á relha do arado.

Astrologia: Elemento Ar. Leveza e despreocupação.

Número 0: Zero vem do árabe cifa ou sifr, ou seja, vazio. Cifre em francês é número. Os maias representavam o zero, mil anos antes de ser conhecido pelos ocidentais, como uma espiral. Por representar o nada, é o potencial absoluto.

Mitologia e Tipologia

Em função de significar a ingenuidade do início de todas as coisas e pelos símbolos dos chifres e uvas, podemos chamá-lo arquetipicamente de Dionísio/Baco, aqui também analisado como Shiva, Osíris e Cristo, ou seja, os deuses despedaçados, ou mortos e renascidos.

Dionísio nasce três vezes (Perséfone, Semele e da coxa de Zeus), sendo em sua gênese primeira o produto de duas realidades complexas opostas e complementares: Zeus (deus da luz) e Perséfone (representante das escuras forças do invisível reino dos mortos). Assim, ele encarna no mundo concreto esta androginia em seu corpo, ora sendo retratado como macho barbudo adulto e em outras como um adolescente efeminado (na infância fora vestido como menina para proteger-se da ciumenta Hera). Tido como deus da embriaguez, do exagero, do descomedimento, mas também como o visionário, patrono das artes, da expressão corporal (dança, teatro e sexualidade) é também o deus da promoção da libido enquanto sinônimo de vida, aquele que através de sua animação viabiliza a manifestação das energias vitais.

A expressão divina neste deus se relaciona com o úmido viscoso, com os líquidos do corpo, pois, segundo Edinger, Dionísio é o próprio princípio da umidade, a fonte de toda a fertilidade...é o princípio da vida, da espontaneidade e da energia, em contraste com a forma, a medida e a restrição. Àgua aqui mais uma vez como símbolo do inconsciente gerador.

O bode, aqui representado pelos chifres, simboliza a pujança genésica, a força vital, a libido, a fecundidade. Bicho noturno (e lunar) em perpétua ereção, é a animus personificada. Dionísio foi transformado em bode (Pã) em sua fuga ao Egito (em muitas representações, ele está coberto por uma pele de bode) em uma época em que alguns homens prostituiam-se a estes animais, como forma de assimilar as forças reprodutoras da natureza, do poderoso impulso do amor pela vida.

Interessante notar que a palavra fool vem do latim follis, que significa par de foles, cornamusas, instrumento utilizado pelos bufões nas festas antigas. E aqui, segundo Willeford, o bobo da corte era tradicionalmente ligado ao falo (inclusive há retratos deles usando grandes bolsões imitando membros avantajados). A significância disto é em função da devassidão e da fertilidade, impostas ainda pelo mito de Dionisio (ele mesmo havia sido mutilado duas vezes e não possuía órgão reprodutor). Os tarots antigos retratam este falo como as campainhas que pendem do chapéu do Louco. Já Crowley apenas insinua isso colocando um sol em seu sexo ou chacra principal.

O zero, ou o círculo com um ponto no meio simboliza o sol, e Frieda o coloca como ponto central da lâmina. Ovo do mundo, de cujo centro fértil provêm toda a luz e toda a força. A jornada deste arcano é circular, partindo da intuição inconsciente para voltar a percepção intuitiva (O Mundo - 22).O jardim do éden onde ele está inserido antes da cair na consciência do Mago, é verde como ele.

Compreensão Divinatória

O Louco representa uma fé quase cega que diz que a vida é linda e livre de preocupações. Ele pode sinalizar um novo início e uma mudança de direção seguindo para a aventura, com crescimento pessoal desde que se mantenha a fé e confiança somadas á responsabilidade pessoal.

A jornada pode iniciar, desde que se acredite em si mesmo e que se siga a intuição mais do que a razão, não importa o quão louco isso possa parecer. E recomenda:

- Iniciar (uma nova fase, um novo caminho, expandir horizontes, acessar o desconhecido)

- Ser espontâneo (viver o momento, deixar as expectativas, fazer o inesperado, agir no impulso, desinibir-se, sentir-se livre)

- Ter fé (confiar no fluxo, estar receptivo deixar ir a preocupação e o medo, sentir-s protegido e amado, viver em alegria, acreditar)

- Acolher a insanidade temporária (aceitar as chances, ser você mesmo, levar adiante idéias malucas, confiar nos desejos do coração)

Complementação na Leitura Divinatória

Cartas em Oposição:

Hierofante: rotina, seguir convenções.

Morte: final, fechamento.

Diabo: Sentir-se cínico, perder a fé.

Dois de Espadas: bloqueado para experiências.

Quatro de Ouros: ordem e regulamentação.

Cartas que Reforçam:

Enforcado: seguindo o fluxo.

Estrela: inocência, fé, confiança.

Aeon/ Julgamento: renascimento, novos começos.

Três de Paus: expandindo horizontes, indo para um território inexporado.

Aspectos Gerais

Impulso inicial, atividade, poder de resolução, força de vontade, concentração, vitalidade, maestria, auto-realização, capacidade de imposição, destreza, perspicácia.

Vida Profissional

Tomar iniciativa, realizar tarefas com maestria, demonstrar concentração e habilidade, ter êxito, passar em provas, negociar com agilidade e esperteza, ludibriar os outros.

Plano da Consciência

Conscientização profunda, penetrar no consciente da totalidade.

Relacionamento

Fascinação, força de atração, solucionar problemas com competência, dar primeiro passo, aceitar a si e aos outros.

Encoraja a

Confiar em suas próprias capacidades e solucionar uma situação com habilidade.

Alerta sobre

Querer forçar algo a todo custo.

sábado, 22 de março de 2008

II - Alta Sacerdotisa, La Papesse, A Papisa

Menegazzi, Pintér e Jayat

Waite

Thot

Marselha


"Spirituality isn't defined by the enclosure of the spirit in a dogma - whether religious or otherwise - but by opening the spirit to vast and new horizons that offer it evolution and elevation." Carole Sedillot.


Abordagem Visual

Frieda Harris retrata a Alta Sacerdotisa através de uma figura feminina coberta com um véu (mistério). Em seu colo há um arco, que também é um instrumento de cordas (força inspiradora e sedução), curvado em forma de trompas de Falópio (fertilidade e energia procriadora). Pode também servir como um instrumento de proteção contra intrusos indesejáveis.

O véu prateado com textura quadriculada fala de encobrimento do mistério e a coroa de raios de luz em forma de meias-luas voltadas para cima denotam a sua disposição receptiva que sabemos ser a chave para a verdade e o conhecimento intuitivo. As sete meias-luas e coroa lunar apontam para as sete esferas planetárias, que conduzem à visão do supremo. A lemniscata (oo) na frente dos olhos, que já vem do mago e do louco, por estarem á frente dizem que ela contempla o Eterno. Flores, frutos, cristais, camelo são fertilidade, abundância, mundo das estruturas, matéria.

O fundo em tons azuis remete ao oceano, ou a tranquilidade dos pensamentos, uma calmaria intelectualizada. Cabala: A letra Gimel significa Camelo. Simbolicamente é a garganta: um canal vazio, uma matriz onde o ar vira som. Hieroglificamente é a idéia de expansão e crescimento.

Astrologia: Lua – Inconsciente, o feminino por excelência, a mãe, o úmido, a concepção e o parto.

Número 2: Depois do 1, o 2 é consequência imediata. A dualidade é a realidade Yin / Yang. Onde existe a luz, existe a sombra.

Mitologia e Tipologia

Lady Frieda torna o corpo de La Papesse marmóreo, e não é por acaso. Este vaso sagrado inquebrável e polido deve proteger, conter, atiçar e apoiar o espírito e alma em seu interior, ser um repositário para as recordações e o conhecimento intuitivo e instintivo, para nos encher de sensações – o supremo alimento da psique. O corpo da Sacerdotisa, o meu corpo feminino, é o detonador destas experiências. E ao fim, esta deusa só entrega seu corpo e sabedoria a quem merecer.

Crowley, por sua influência oriental, priorizava os mitos egípcios e assim a chamou de Ísis (nota-se o emblema em sua cabeça que é a coroa de Háthor, emWaite também), que na tradição grega personificava a grande feiticeira e caçadora Ártemis. Além destes arquétipos femininos podemos também associar a este arcano Shakti e, em seu estado mais singelo, Maria Madalena .

Ártemis, filha de Zeus e Leto, irmã-gêmea de Apolo, era a Grande Mãe Oriental de corpo livre, em eterno movimento, inserida na natureza, senhora da sabedoria do inconsciente dos instintos, da magia das ervas, do cuidar e do restaurar. Na antiguidade ela aparecia com uma tocha acesa em uma de suas mãos e a Lua Crescente na cabeça,chamando-se Selene (a Lua), errante em seu ciclo pelas montanhas enquanto seu irmão era visto como a personificação de Helios (o Sol). Interessante notar esta correlação com o número 2, através da luz e sombra, homem e mulher mas que ao fim, são gêmeos. São ambivalentes e complementares opostos que, na tensão do encontro possibilitam a sua integração para serem um só corpo e espírito, ou Consciente e Inconsciente.

A personalidade desta sagitária é ilustrada pela passagem onde Zeus lhe concedeu, por ocasião da apresentação á sua família, alguns pedidos simbólicos:

“ virgindade eterna”. Na definição original de virgindade, que era ‘ mulher não-casada, ou dona de si mesma’ , como a Virgem Maria, aqui é o desejo de independência do masculino, do poder do homem sobre si mesma;

“ saia curta cor de açafrão”. É o desejo de liberdade de se conduzir segundo sua própria vontade;

“ cães de caça”. A primeira função mítica do cão é a de psicopompo (guia do homem na noite da morte após acompanhá-lo no dia da vida) ou seja, ser o guia nos caminhos desconhecidos.

“arco e flecha” . Para acertar o alvo, para não se desviar do caminho.

“ todas as montanhas do mundo”. A Natureza com seus ciclos é que comanda a vida, mas é necessário viver a montanha.

“ uma cidade para ser honrada e receber sacrifícios”. Ser respeitada nas suas escolhas.

“ tantos nomes como meu irmão”. Tratamento equalitário entre os gêneros.

Compreensão Divinatória

Enquanto o Mago revela, a Sacerdotisa oculta as informações por detrás de seu véu. Coisas que ela sabe, mas que não fala. Pode ser que este momento seja para dispender tempo em poeirentas livrarias, estudando antigos textos religiosos, pois num dado momento, a revelação será feita.

Também significa que informações secretas agora estão prontas para serem reveladas e que algumas mudanças estão sendo feitas para quem lê esta lâmina - o portão de energia depois da força física foi aberto, trazendo uma surpresa no futuro imediato. A Alta Sacerdotisa recomenda:

- Permanecer no não-fazer (manter-se calma, ser receptiva ás influências, não intervir nos acontecimentos
ser passiva, esperar pacientemente)

- Acessar o inconsciente (usar a intuição, procurar um guia interno, confiar na própria voz interior, abrir os sonhos e a imaginação, manter uma certa distância da realidade)

- Explorar o potencial (entender as possibilidades, abrir-se ao que pode ser, olhar seus talentos ocultos, buscar desenvolvimento, deixar o que está florescendo nutrir-se)

- Usar o mistério (olhar sobre o óbvio, aproximar-se de uma area fechada, abrir-se para o desconhecido, relembrar algo importante, dosar o secreto e escondido, olhar o que foi concedido, compreender a sombra)

Complementação na Leitura Divinatória

Cartas em Oposição:

Mago: pensando o conhecido e o óbvio.

Dois de Paus: agindo devagar.

Sete de Paus: sendo agressiva.

Oito de Paus: colocando planos em ação.

Cartas que Reforçam:

Ermitão: buscando guias.

Enforcado: esperando, suspendendo atividades.

Quatro de Espadas: contemplando.

Vida Profissional

Atividades terapêuticas, aptidão mediúnica e inspiradora,segurança instintiva.

Plano da Consciência

Compreensão da mensagem dos sonhos, profundidade, vivenciar experiências espirituais.

Relacionamento

Atração profunda, união espiritual, compreensão, confiança mútua, deixar-se encontrar, disposição passiva.

Encoraja a

Confiar na sua voz interior.

Alerta sobre

Deixar-se levar passivamente e simplesmente esperar por um milagre.

O Tarô de Crowley

No segundo lugar em popularidade — pelo menos nos países de língua alemã e inglesa —, encontra-se um Tarô que remonta à pessoa amplamente discutida de Aleister Crowley (1875-1947)*, ao qual muitos conferem a má fama de satanista e praticante de magia negra, enquanto outros, dentre os quais pessoas muito inteligentes, vêem nele um grande iniciado. Crowley, que sofreu muito durante a sua infância sob o sectarismo estreito da casa de seus pais e não vivenciou o Cristianismo de forma alguma como uma mensagem de amor, profetizou apaixonadamente o fim dessa religião, proclamou-se anticristo e, por fim, até se tornou preconizador de uma nova era. Por ele ter, com isso, provocado o medo do satanás, adormecido no homem ocidental desde os tempos medievais, e também por não ter deixado passar em branco uma oportunidade de se tornar impopular, ele não só foi tachado de grande facínora, como também ficou com uma reputação de tal forma ruim que esta se perpetuou muito além do seu tempo. Até hoje, algumas almas temerosas estremecem só em ouvir o seu nome, e não são poucas as pessoas que temem ser a ocupação com a sua obra o ingresso garantido para o inferno. Isso não é verdade.

Crowley não era criminoso nem propagava o mal. Para ele, o Cristianismo tratava-se da subjugação de uma crença ultrapassada e hipócrita. Com esse propósito, ele atreveu-se, de fato, a manchar os valores sagrados do Ocidente, ousadia pela qual nunca foi perdoado. Como a sua tentativa de fundar uma nova religião mundial tem até hoje permanecido sem nenhum sucesso que mereça ser mencionado e, além disso, a sua obra mágica desperta o interesse apenas de um pequeno circulo de iniciados entusiastas, o nome Crowley já teria há muito tempo caído no esquecimento, se ele não tivesse, perto do fim de sua vida, concebido um novo Tarô. Este surgiu em 1944 com o nome de O Livro de Thot, assim denominado em razão do deus da sabedoria e das fórmulas mágicas do antigo Egito. Nessas cartas, pintadas pela artista Lady Frieda Harris (1877-1962), ele deixou fluir todo o seu conhecimento mágico. Por ser um homem altamente instruído e viajado, e uma sumidade extraordinariamente versada em tradições esotéricas, não é de se surpreender que esse Tarô seja além de fascinante, até hoje inigualável em seu conteúdo simbólico e em sua complexidade.

Em comparação ao Tarô de Rider, essas cartas profundamente elaboradas causam, sem dúvida, uma dificuldade. As imagens são certamente fascinantes, mas não são simples, tampouco agradáveis. Justamente por causa da profundidade e da riqueza de seu simbolismo, o acesso ao seu significado nem sempre é fácil. Além disso, soma-se o fato de Crowley, ao conceber as cartas dos Arcanos Menores, ter-se posicionado entre a representação simples, mas inexpressiva, das cartas antigas de um lado e os motivos de compreensão fácil do Tarô de Rider do outro. Pode-se dizer que ele abstraiu em suas cartas as respectivas idéias. Dessa forma, o seu significado foi bem expresso, porém somente para aqueles que são capazes de decifrar os seus símbolos. Como que para amenizar um pouco essa dificuldade adicional, cada carta do Tarô de Crowley recebeu um nome. Para algumas pessoas, isso pode ajudar na interpretação das cartas. Porém, muitos outros lêem apenas o nome das cartas sem analisar a figura, que, comprovadamente, fala mais do que mil palavras, e acabam, muitas vezes, compreendendo pouco ou nada do que a carta realmente tem a dizer.

Além disso, as cartas de Crowley diferenciam-se dos baralhos usados como modelo também em sua estrutura. Há alguns anos, pareciam conter três Magos. Essa "mudança" tão foi, contudo, idealizada por Crowley. As pinturas originais das cartas, que pertenciam ao espólio da pintora Lady Frida Harris, foram deixadas como herança para o Instituto Warburg em Londres. Quando Werner Ganser, que ficou responsável pela nova edição desse Tarô nos anos de 1980, mandou fotografá-las novamente, descobriu duas variantes do Mago. Estas lhe agradaram tanto, que ele sugeriu ao fabricante das cartas adicioná-las ao novo Tarô de Crowley como peças de colecionador. Dessa forma, houve uma aparente ampliação desse Tarô para 80 cartas, mas que, entretanto, foi reavaliada; e a partir de 1998, os dois "novos" Magos desapareceram outra vez desse baralho. Algumas cartas dos Arcanos Maiores receberam novos nomes no Tarô de Crowley. A carta A JUSTIÇA passou a se chamar AJUSTAMENTO (VIII), a RODA DA FORTUNA, também conhecida em muitos lugares como a RODA DA SORTE, passou a ser chamada reduzidamente de FORTUNA (X), a FORÇA tornou-se VOLÚPIA (XI), A TEMPERANÇA transformou-se em ARTE (XIV) e O MUNDO chama-se agora O UNIVERSO (XXI).

A mudança fundamental ocorreu com a vigésima carta. Ela chamava-se O JULGAMENTO e mostrava o milagre da ressurreição no dia do Juízo Final. No entendimento de Crowley, esse tema pertence à Era de Osíris, a era dos deuses imolados e auto-sacrificados, que já caminha para o final. A sua nova carta O AEON representa o nascimento da Era de Hórus,que agora se aproxima e na qual Hórus pode ser visto como o senhor desse novo Aeon. Dessa forma, o significado desta carta também foi, obviamente, transformado. Ela não representa mais a salvação e o milagre da transformação, como nos Tarôs antigos, mas sim o nascimento do novo e uma visão de um futuro distante.

O Tarô de Rider-Waite

Segundo Hajo Banzhaf, no inicio do século XX, Arthur Edward Waite (1857-1942) e Pamela Colman Smith (1878-1951) criaram novas cartas que foram publicadas em 1910 sob o nome Tarô de Rider ou Tarô de Rider-Waite, que se tornaram as cartas de Tarô mais conhecidas e com maior propagação pelo mundo. Ambos os criadores dessas cartas eram membros da Ordem Hermética da Aurora Dourada, famosa associação esotérica que existiu em Londres na virada do século. Nesse círculo, do qual personalidades muito ilustres faziam parte, as pessoas ocupavam-se intensivamente com tradições ocidentais e em especial com o Tarô. A. E. Waite, que foi durante um período o líder dessa Ordem, era tido como a "biblioteca ambulante" da casa.

Baseado no seu vasto e profundo conhecimento, ele concebeu as novas cartas, ilustradas pela artista P. C. Smith. Enquanto nas representações das cartas dos Arcanos Maiores é possível, na maioria dos casos, reconhecer o modelo clássico, nos Arcanos Menores houve uma criação completamente inovadora.

Cada uma delas foi ilustrada individualmente e, a partir de então, é possível deduzir o significado de todas as 78 cartas por meio das figuras. Nessa mudança, encontra-se um enriquecimento enorme, o motivo principal para a enorme popularidade e a ampla propagação dessas cartas de Tarô.