quarta-feira, 17 de setembro de 2008

XIII – A Morte, a Transformação


Abordagem Visual

Um esqueleto escuro, com um capacete egípcio, empunhando uma foice contra um céu (?) povoado por figuras azuis, etéreas, representando um peixe, uma cobra, uma humana silhueta, um escorpião, uma águia e ainda, flores de lótus e lírios murchos.


Mitologia e Tipologia

Dois elementos saltam para a análise aqui: o esqueleto dervixe, que empunha uma foice bem afiada. Antes de começar a tratar dos aspectos mitológicos, é interessante ressaltar que Vassel percebeu que esta carta, na ordem do baralho, faz um corte entre os arquétipos inferiores e superiores, ou seja, entre os valores mundanos e os espirituais. Lembro que ela vem após o Enforcado, falando então que, aceita a pena capital imposta, ocorre a transformação anímica que tanto esperamos. O Enforcado é salvo pela Morte. Wirth diz que o profano deve morrer para que renasça á vida superior conferida pela Iniciação e Goethe nos lembra que ‘Enquanto não morreres e não tornares a levantar-te, serás um estranho para a terra escura’.

O aqui esqueleto simboliza então aquele que atravessou a fronteira despojado de suas carnes (o conhecido) e que, pela morte, penetrou no além (no conhecimento). Ele dança, e parece que ri da situação! Na Grécia, Mercúrio era representado como um esqueleto, pois era o deus psicopompo que tinha o privilégio de descer aos infernos e voltar, levando a alma dos defuntos.

A foice é a arma deste dervixe e também de Saturno, que ceifava tudo que era vivo, incluam aí seus filhos. Ela lembra a forma da lua crescente de Ártemis, oferecendo então um band-aid regenerativo e renovador após o profundo corte da lâmina.

Interessante notar que na Astrologia este planeta é chamado de o Grande Maléfico, encarnando o princípio da concentração, da rigidez, da fixação, do controle, simbolizando as paradas, a carência, a impotência... No organismo, ele fixa exatamente a estrutura óssea! Psicologicamente há um termo interessante denominado Complexo Saturnino, que é a recusa de perder aquilo a que nos ligamos sucessivamente durante a vida, que pode levar a a uma exasperação da avidez sob várias formas (anorexia, bulimia, ambição monetária, fria erudição...).

O esqueleto aqui está em movimento e parece ser feito de pedra – simboliza nossa realidade, nossa estrutura articulada, tanto interna quanto social. A nossa parte mais resistente, pois todo o resto apodrece rápido. Eles que ficam para contar a estória de nossas vidas. Este esqueleto aqui expõe sua nudez, de forma caricata até porque ele não teme a chacota, não teme mais nada. Ele tem orgulho de poder rir na nossa cara, porque nós é que ainda nos escondemos!

A expressão ‘todos temos um esqueleto no armário’ diz respeito a que todos temos algo secreto que nos envergonha e magoa profundamente, que guardamos trancado com mil cadeados dentro de um local inominável. Pode ser algo concreto que aconteceu conosco, na nossa família, mas geralmente é algo interno, aquilo que ‘ eu não posso sentir porque serei má’ ou ‘ que não posso fazer porque serei tachada de louca’. Nossos medos e inseguranças, nossas vestes de Glauce. E a foice é o julgamento dos outros, que nem se importam, pois também tem seus fantasmas... Isso nos fala em outro nível da nossa resistência em tornar conhecidas as nossas fraquezas, dando espaço para que, compreendidas e expostas, possam talvez se fortalecer. Mas para isso eu preciso domar minha Força interna, largar de mão o orgulho, desapegar-me de coisas concretas muitas vezes, dar adeus a pessoas e livrar-me das cascas persona.

Como seria se de repente ganhássemos uma viagem a um paraíso tropical, onde tivéssemos apenas a possibilidade de levarmos uma pequena mala de mão? A melhor maneira de nos prepararmos para uma prazerosa jornada (no caso, nossa vida), de duração infindável (sim, porque não sabemos quando será a nossa Passagem de volta) a um paraíso desconhecido (e que mais a Terra é?) seria livrar-mo-nos de todas as bagagens desnecessárias. O que, de meus pertences concretos e simbólicos é essencial? Um exercício interessante que aprendi com Charles Watson, foi o de perguntar-me sempre, no caso de dúvidas sobre a minha arte ou minha vida se á minha Morte isso importa.

- Morte, dona da Vida, isso faz sentido para ti? Isso é relevante para o teu Julgamento sobre como vivi? O que de mim realmente fez sentido e fez a diferença?

Mudar é a ordem da Morte! Não como um Louco, ao prazer dos ventos e as custas do mundo, mas com a responsabilidade e discernimento individuais que os momentos de introspecção do Enforcado me permitiram desenvolver. O Imutável é a Mutação, afirmou o Tao. A mudança é sim a base da estabilidade, porque o que muda, se adapta e permanece, mas o que tenta, como uma árvore centenária, se manter imóvel, se quebra ou é atingido pelo raio da Torre algum dia... As pessoas que seguem o fluxo externo são estas árvores. Elas simplesmente vão e não sabem de onde nem para onde, porque elas estão mortas internamente.

A Morte vem todos os dias nos inquirir se estamos felizes com a Vida. E ela disse para o Enforcado: ‘ Não desejar viver é sinônimo de não querer morrer. Vir e deixar de existir são a mesma curva. Quem quer que não acompanhe esta curva permanece suspenso no ar e fica paralisado.(Jung) ‘ Diz a lenda que o Enforcado saiu da cruz rapidinho..

Para finalizar, lembrei de uma passagem de um filme de Visconti, o famoso Il Gattopardo, onde em certo momento o Conde, personagem principal, diz ao seu futuro genro: “ As coisas tem que mudar para que permaneçam as mesmas.’

Esta é a Lei.


Cabala: Nun – Peixe.

Astrologia: Escorpião - Transformação, morte e nascimento.

Número 13: Site sobre símbolos, excelente!


Compreensão Divinatória e a Complementação na Leitura Divinatória acessíveis a um click!

Um comentário:

Anônimo disse...

"O que, de meus pertences concretos e simbólicos é essencial?"

Menina!! Cê se supera a cada Post! Adorei!

Essas frases inquisitivas são extremamente necessárias exatamente para que se chegue no essencial. Fora o esqueleto, o resto é só pele, e como tal, é mortal e putrefata com o escorpião alquímico!

Que sejamos verdadeiros, até os ossos!

Beijus!!

Adash