quarta-feira, 17 de setembro de 2008

XIII – A Morte, a Transformação


Abordagem Visual

Um esqueleto escuro, com um capacete egípcio, empunhando uma foice contra um céu (?) povoado por figuras azuis, etéreas, representando um peixe, uma cobra, uma humana silhueta, um escorpião, uma águia e ainda, flores de lótus e lírios murchos.


Mitologia e Tipologia

Dois elementos saltam para a análise aqui: o esqueleto dervixe, que empunha uma foice bem afiada. Antes de começar a tratar dos aspectos mitológicos, é interessante ressaltar que Vassel percebeu que esta carta, na ordem do baralho, faz um corte entre os arquétipos inferiores e superiores, ou seja, entre os valores mundanos e os espirituais. Lembro que ela vem após o Enforcado, falando então que, aceita a pena capital imposta, ocorre a transformação anímica que tanto esperamos. O Enforcado é salvo pela Morte. Wirth diz que o profano deve morrer para que renasça á vida superior conferida pela Iniciação e Goethe nos lembra que ‘Enquanto não morreres e não tornares a levantar-te, serás um estranho para a terra escura’.

O aqui esqueleto simboliza então aquele que atravessou a fronteira despojado de suas carnes (o conhecido) e que, pela morte, penetrou no além (no conhecimento). Ele dança, e parece que ri da situação! Na Grécia, Mercúrio era representado como um esqueleto, pois era o deus psicopompo que tinha o privilégio de descer aos infernos e voltar, levando a alma dos defuntos.

A foice é a arma deste dervixe e também de Saturno, que ceifava tudo que era vivo, incluam aí seus filhos. Ela lembra a forma da lua crescente de Ártemis, oferecendo então um band-aid regenerativo e renovador após o profundo corte da lâmina.

Interessante notar que na Astrologia este planeta é chamado de o Grande Maléfico, encarnando o princípio da concentração, da rigidez, da fixação, do controle, simbolizando as paradas, a carência, a impotência... No organismo, ele fixa exatamente a estrutura óssea! Psicologicamente há um termo interessante denominado Complexo Saturnino, que é a recusa de perder aquilo a que nos ligamos sucessivamente durante a vida, que pode levar a a uma exasperação da avidez sob várias formas (anorexia, bulimia, ambição monetária, fria erudição...).

O esqueleto aqui está em movimento e parece ser feito de pedra – simboliza nossa realidade, nossa estrutura articulada, tanto interna quanto social. A nossa parte mais resistente, pois todo o resto apodrece rápido. Eles que ficam para contar a estória de nossas vidas. Este esqueleto aqui expõe sua nudez, de forma caricata até porque ele não teme a chacota, não teme mais nada. Ele tem orgulho de poder rir na nossa cara, porque nós é que ainda nos escondemos!

A expressão ‘todos temos um esqueleto no armário’ diz respeito a que todos temos algo secreto que nos envergonha e magoa profundamente, que guardamos trancado com mil cadeados dentro de um local inominável. Pode ser algo concreto que aconteceu conosco, na nossa família, mas geralmente é algo interno, aquilo que ‘ eu não posso sentir porque serei má’ ou ‘ que não posso fazer porque serei tachada de louca’. Nossos medos e inseguranças, nossas vestes de Glauce. E a foice é o julgamento dos outros, que nem se importam, pois também tem seus fantasmas... Isso nos fala em outro nível da nossa resistência em tornar conhecidas as nossas fraquezas, dando espaço para que, compreendidas e expostas, possam talvez se fortalecer. Mas para isso eu preciso domar minha Força interna, largar de mão o orgulho, desapegar-me de coisas concretas muitas vezes, dar adeus a pessoas e livrar-me das cascas persona.

Como seria se de repente ganhássemos uma viagem a um paraíso tropical, onde tivéssemos apenas a possibilidade de levarmos uma pequena mala de mão? A melhor maneira de nos prepararmos para uma prazerosa jornada (no caso, nossa vida), de duração infindável (sim, porque não sabemos quando será a nossa Passagem de volta) a um paraíso desconhecido (e que mais a Terra é?) seria livrar-mo-nos de todas as bagagens desnecessárias. O que, de meus pertences concretos e simbólicos é essencial? Um exercício interessante que aprendi com Charles Watson, foi o de perguntar-me sempre, no caso de dúvidas sobre a minha arte ou minha vida se á minha Morte isso importa.

- Morte, dona da Vida, isso faz sentido para ti? Isso é relevante para o teu Julgamento sobre como vivi? O que de mim realmente fez sentido e fez a diferença?

Mudar é a ordem da Morte! Não como um Louco, ao prazer dos ventos e as custas do mundo, mas com a responsabilidade e discernimento individuais que os momentos de introspecção do Enforcado me permitiram desenvolver. O Imutável é a Mutação, afirmou o Tao. A mudança é sim a base da estabilidade, porque o que muda, se adapta e permanece, mas o que tenta, como uma árvore centenária, se manter imóvel, se quebra ou é atingido pelo raio da Torre algum dia... As pessoas que seguem o fluxo externo são estas árvores. Elas simplesmente vão e não sabem de onde nem para onde, porque elas estão mortas internamente.

A Morte vem todos os dias nos inquirir se estamos felizes com a Vida. E ela disse para o Enforcado: ‘ Não desejar viver é sinônimo de não querer morrer. Vir e deixar de existir são a mesma curva. Quem quer que não acompanhe esta curva permanece suspenso no ar e fica paralisado.(Jung) ‘ Diz a lenda que o Enforcado saiu da cruz rapidinho..

Para finalizar, lembrei de uma passagem de um filme de Visconti, o famoso Il Gattopardo, onde em certo momento o Conde, personagem principal, diz ao seu futuro genro: “ As coisas tem que mudar para que permaneçam as mesmas.’

Esta é a Lei.


Cabala: Nun – Peixe.

Astrologia: Escorpião - Transformação, morte e nascimento.

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sábado, 13 de setembro de 2008

XII – O Enforcado, a Prudência


Abordagem Visual

Num ambiente em tons frios de azul e verde, com um fundo formado por uma grade azul quadriculada, pende uma figura nua de cabeça para baixo, presa pelo pé esquerdo numa cruz egípcia (ankh), com as pernas cruzadas formando o número quatro. Seus braços estão formando um triângulo e abaixo deste há uma grande serpente preta. Notar que seus membros encontram-se presos nesta grade sob círculos verdes através de pregos, numa alusão a crucificação cristã.


Mitologia e Tipologia

Além do homem nu, impávido, diria em estado meditativo, que é o motivo central da lâmina dois elementos chamam a atenção: a cruz egípcia acima e a serpente abaixo de seu corpo.

Geralmente o deus-salvador da maior parte das religiões está associado ao arquétipo do Enforcado: Jesus crucificado na cruz, Odin pendurado no freixo, Osíris retalhado e encaixotado, Prometeu acorrentado, Baal comendo lama. Mais sorte tiveram Buda, Thot e Quetzalcoatl, mas isso é outra estória... Nosso herói aqui está suspenso entre os dois pólos de sua existência, simbolizados pela Ankh e a serpente negra. Em total isolamento, talvez se sobreviver a este penduramento ritual poderá encontrar um novo caminho, até então desconhecido. Suas mãos e pés estão fortemente presos, o que nos fala que nada poderá fazer, a não ser talvez rezar e aguardar um salvamento. Jung fala que quando estamos abandonados á nossa sorte, nos sentindo talvez traídos e friamente sós, é nesse momento que ‘... descobrimos o que nos sustenta quando já não podemos nos sustentar. Somente esta experiência poderá nos dar uma base indestrutível’. O pé esquerdo (inconsciente) do homem é fixo á cruz por uma serpente e aqui ele pode ser interpretado como a força da alma, no sentido de ser ele o suporte da nossa posição vertical.

A cruz Ankh ou nó mágico é um signo que exprime a conciliação dos contrários, integração dos princípios ativos e passivo. Nas mãos dos mortais ela fala do desejo de uma eternidade venturosa, e segundo Cham, ...’ ela figura o estado de transe, no qual se debatia o iniciado; mais exatamente ela representa o estado de morto, a crucificação do eleito (!) e em certos templos o iniciado era deitado pelos sacerdotes num leito em forma de cruz. ‘ E ainda: ‘ Aquele que possuísse a chave geométrica dos mistérios esotéricos sabia abrir as portas do mundo dos mortos e podia penetrar o sentido oculto da vida’. Quando colocado na fronte dos faraós este símbolo era para lhes conferir a visão da eternidade para além dos obstáculos ainda a vencer. A serpente negra abaixo de sua cabeça pode ser a psique inferior, o psiquismo obscuro, o que é raro, compreensível e misterioso. É um dos mais importantes arquétipos da alma humana.

Estes dois símbolos e sua atuação no arquétipo do Enforcado são muito bem unificados num relato de Weir Perry acerca de um episódio esquizofrênico, descrito em Nichols: ‘ Mercê da ativação do insconsciente e do colapso do ego, a consciência é dominada pelos níveis profundos da psique e o indivíduo se vê vivendo uma modalidade psíquica muto diferente do seu meio. Sente-se isolado porque não encontra compreensão deste mundo por parte dos que o cercam. O medo da opressão e do isolamento produz uma onda de pânico, qe o impele para um afastamento agudo’.

Oras, quem é o enforcado? Somos nós, sempre que absortos por paixões, tiranizados por idéias alheias e sentimentos arrebatadores não temos consciência desta escravidão. Mas, neste momento, de inatividade introspectiva, submissos ao destino ou deliberadamente dispostos a entrarmos ‘para dentro’ encontramos um momento de salvação, que poderá se prolongar caso aceitemos o não-movimento e a resoluta imobilidade. Aceitando o que as moiras nos trouxerem, entregando nosso ego a um poder superior, nos deixamos levar para sermos encontrados! O nada-fazer, contemplativo e meditativo da Sacerdotisa aqui é manifestado, muito atuante, inclusive fisicamente, como atestam os os yogues, na posição onde erguidos pela cabeça e com os braços apoiados no chão buscam uma maior concentração intelectual através de uma regeneração e de uma circulação de forças de baixo para cima.

Prometeu está como figura central em Greene e, aqui ele é o herói que criou o primeiro homem usando o barro, sendo um grande benfeitor da raça humana. Quando Zeus oprimiu os homens e os livrou do fogo, Prometeu o devolveu aos homens e lhes ensinou várias artes. Foi punido por esta rebeldia sendo acorrentado por Hefesto a mando de Zeus, em uma rocha inacessível no monte Caucáso, onde diariamente uma grande águia vinha bicar-lhe o fígado. Sendo ele imortal, este se refazia a noite, tornando sua punição terrível pelas dores atrozes. Foi salvo um bom tempo depois em troca da imortalidade de oferecida a Quíron, o curador. Este mito marca o advento da consciência, o aparecimento do homem, e a ave bicando o fígado simboliza a culpa reprimida e não expiada. Entra aqui também, como ilustração ao arquétipo em pauta, o Mito de Prometeu, que nada mais é do que a vontade de intelectualidade acima dos deuses, no caso, dos pais, da sociedade, dos professores, que, se levada aos extremos, pode crucificar o indivíduo na árvore do conhecimento para sempre. Porque aqui o espírito estará sendo utilizado não por si mesmo, para a espiritualização progressiva de si, mas com fins apenas de satisfação pessoal. Então, vem o Universo e dá uma rasteira no sujeito, imobilizando-o, para que ele perceba que não pode ser mais do que a Consciência Una.

A escolha da liberdade do rochedo por méritos positivos está ao alcance de todos. Conscientemente, com aceitação do sacrifício e muita paciência, apenas.

Cabala: Mem - Água.

Astrologia: Elemento Água - Entrega, espiritualidade.

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quinta-feira, 11 de setembro de 2008

O Destino e suas Moiras

"O livre-arbítrio é a capacidade de fazer com alegria aquilo que eu devo fazer."

C. G. Jung

Abrirei espaço para um post mais intimista, dada a importância e relevância do assunto face ao objetivo deste blog. Segundo Jung, a sincronicidade é a coincidência, no tempo, de dois ou vários eventos, sem relação causal mas com o mesmo conteúdo significativo. Ele diz que “a ligação entre os acontecimentos, em determinadas circunstâncias, pode ser de natureza diferente da ligação causal e exige um outro princípio de explicação”.

Ao reler a postagem sobre a Fortuna percebi que havia esquecido de comentar sobre o mito que Liz Greene convidara para fazer parte, no caso, as Moiras. Assim, enquanto refletia e pesquisava para anexar ao mesmo os detalhes mitológicos da Ruotta della Fortuna através de outras fontes, recebi de um querido amigo que aqui chamarei de Mr.Sincrônico (visto que sempre, de um jeito ou outro, entra em contato justamente me presenteando com aquilo que minha´lma está demandando no momento), o livro da Liz Greene ‘ A ASTROLOGIA DO DESTINO’. Qual não foi minha surpresa quando na primeira parte encontro um capítulo nteiro dedicado ás irmãs tecelãs do Destino. Assim, recomendo a leitura do mesmo e para ilustrar transcrevo três parágrafos que achei interessantes e condizentes com o que eu queria comentar sobre a lâmina de número dez. Vejamos:

Filhas de Nyx, a deusa da Noite, ou de Erda, a Mãe Terra, elas são chamadas Moiras ou Erínias ou Nornas ou Hécate de três faces, assim como são três em forma e aspecto as três fases lunares. A promissora fase crescente, a fértil cheia e a sinistra fase minguante da Lua representam, na imagem mítica, os três aspectos da mulher: a solteira, a esposa fértil e a anciã estéril. Cloto tece o fio, Láquesis medem e Átropos corta-o, e os próprios deuses estão limitados por essas três, por terem sido originados da incipiente Mãe Noite, antes que Zeus e Apolo trouxessem dos céus a revelação do eterno e incorruptível espírito humano. A roda (do universo) gira sobre os joelhos da Necessidade e, na parte superior de cada circulo, se encontra uma sereia, que gira com eles, entoando uma só nota ou tom. As oito juntas formam um todo harmônico e, em volta, em intervalos iguais,há um outro grupo de três sereias, cada qual sentada no seu trono: do as Parcas, filhas da Necessidade, que vestem túnicas brancas e usam uma coroa na cabeça.

Antes que a filosofia surgisse, os gregos tinham uma teoria ou opinião a respeito do universo, que pode ser chamada de religiosa ou ética. De acordo com essa teoria, cada pessoa e cada coisa possuía seu lugar ou função designados. Isso não depende da sanção de Zeus, pois ele próprio está sujeito ao mesmo tipo de lei que governa os outros... Os temas da lei natural e da transgressão dos limite; impostos pelo destino poderiam encher, e realmente enchem, volumes de drama, poesia e ficção, sem falar da filosofia. Parece que nós, criaturas humanas curiosas, sempre estivemos preocupados com a difícil questão de saber qual o nosso papel no cosmo: somos predestinados, ou somos livres? Ou estamos fadados a procurar por nossa liberdade, apenas para fracassar? Será melhor, como fizeram Édipo e Prometeu, lutar até os limites extremos de que se é capaz, mesmo que isso provoque um fim trágico, ou será mais sensato viver moderadamente, portar-se com humildade diante dos deuses e morrer com tranqüilidade em seu próprio leito, sem jamais ter provado a glória ou o terror dessa imperdoável transgressão?

Estamos tratando aqui de uma espécie muito particular de destino, que na realidade não diz respeito à predestinação, no sentido comum. Esse destino, que os gregos chamavam Moira, é o "servo da justiça": o que contrabalança ou pune os desvios com relação às leis do desenvolvimento natural. Esse destino pune o transgressor dos limites fixados pela Necessidade. Os deuses têm suas províncias por concessão impessoal de Láquesis ou Moira. O mundo, de fato, era desde os primeiros tempos considerado como o reino do Destino e da Lei. Necessidade e Justiça — "necessidade" e "dever" — encontram-se juntas nesta noção primária de Ordem - uma noção que para a representação religiosa grega é elementar e enigmática.

XI – A Volúpia, Força, Luxúria, Persuasão


Abordagem Visual

Uma carta em tons quentes, onde uma mulher nua cavalga languidamente uma criatura de sete cabeças que lembra um leão, por suas patas. Na mão esquerda ela tem as rédeas enquanto segura com a direita o que pode ser um útero. Ele é o divisor dos ambientes; pois acima da linha, com ele, vemos dezenas de serpentes-espermatozóides. Abaixo dela, ao fundo, vemos faces, mãos e partes de corpos na cor violeta.

Mitologia e Tipologia

São dois os elementos que aqui demandam uma interessante análise: a criatura leonina que a mulher nua cavalga e o útero rodeado de serpentes, como um cálice.

O leão entre os animais – Krishna, o leão dos Shakya – Buda e o leão de Judá – Cristo, é garantia do poder material e espiritual, servindo muitas vezes inclusive de montaria a algumas divindades. Poderoso, solar, encarnação do Poder, Sabedoria e Justiça, pode também estar pleno de Hybris e Confiança. Aqui vale a analogia com a astrologia, que denomina o período do meio do verão no hemisfério norte, caracterizado pelos raios quentes do Sol (seu regente, inclusive), como regido pelo signo de Leão. Seu elemento é o fogo e a este tipo zodiacal, digamos, corresponde uma natureza forte, apaixonada, hercúlea. Aqui na lâmina, o leão é domado pela vesta – feito heróico – representando então a força moral, a bravura que domina as adversidades, a liberdade de ação e a confiança em si mesmo.

Ele está subjugado aqui porque não podemos deixar nosso animal interior ás nossas costas - a mulher nua (despida das vestes da sociedade, do valor imposto ) o cavalga, ou seja, é é a vitória do espírito livre sobre a matéria que significa não uma destruição, mas uma sublimação dos instintos, ou seja, quanto mais pudermos trazer para a luz nossas pulsões destrutivas, menos estaremos compelidos a nossa auto-destruição, através das raivas manifestadas em nossos corpos através de doenças psicossomáticas, brigas diretas que podem evoluir até para guerras sociais... Nosso instinto não pode ter livre-arbítrio pois dado este poder, ele poderá voltar-se contra nós. E aqui o papel de guia é uma mulher, o inconsciente, que parece ser muito íntima, conhecida deste ser leonino, afinal, está nua e á vontade sobre ele. Em Marselha a mulher está abrindo/fechando a boca do leão, numa aproximação tranquila, ambos estão á vontade, em uma quase-dança. A lição aqui é clara: temos que encontrar um jeito – delicadamente – de caminhar lado a lado com a nossa natureza animal em pacífica amizade e companheirismo. Apenas aceitando a nossa alma animal, como disse Jaffé, estamos na condição da totalidade e de uma vida plenamente vivida.

E não é por acaso que a nossa sensual mulher também sustenta um útero, prestes a ser fecundado pelas serpentes-espermatozóides. A energia animal, natural, integrada de forma saudável em sua espiritualidade e intelecto, é então orientada á criação, que pode ser tanto pontual, materializada em uma nova vida, um novo projeto, um novo relacionamento ou pessoal e íntima, na nossa própria transcendência.

Liz Greene já coloca Hércules como persona central, juntamente com seu leão de Neméia, sua primeira façanha. Conta o mito que ele se submeteu a estes 12 trabalhos para expiar os assassínios cometidos durante o acesso de loucuras provocado por Hera. Este leão era um monstro invulnerável, irmão da Esfinge, que devorava os habitantes e seus rebanhos. Hércules não conseguiu aniquilá-lo com suas flechas e então entrou em sua caverna e lá, com as próprias mãos, segurando-o pelo pescoço, o estrangulou. Penso que aqui matar definitivamente nosso leão interno não é a melhor saída, pois reprimindo assim nosso lado animal, sem transformá-lo, viveremos sem paixão, sem raiva – necessária – e sem uma identidade verdadeira. Cordeiros mansos, autômatos, mas então cheios de pulsões neuróticas...

No Oriente, o leão tem profundas afinidades com o dragão, com o qual muitas vezes se identifica, desempenhando uma proteção contra as entidades maléficas. Por esta razão, em função da caverna acima e desta analogia, lembrei-me de uma passagem de o Poder do Mito onde Joseph Campbell comenta que o dragão é o atrelamento de si ao seu ego. Ou seja, estamos assim aprisionados em nossa própria caverna de dragão e o objetivo de uma análise profunda é desintegrar este ser para que possamos nos expandir num campo maior de relacionamentos. O último dragão, segundo ele, é o nosso ego. E quem ele é? Oras, é o que achamos que queremos, o que achamos que podemos enfrentar, o que decidimos amar, aquilo a que nos julgamos ligados. Pode ser tudo muito pequeno, e então, nosso ego nos manterá lá embaixo. E se fizermos o que nossos vizinhos, nossos imperadores, papas e imperatrizes disserem, o rebaixamento será maior. O dragão oriental é jubiloso, ruge, é cintilante, rico. O ocidental ao qual estamos relacionados arquetipicamente é sovina: guarda tudo que acha que tem valor dentro da sua caverna úmida. Mas não sabe o que fazer com isso, pois é...um dragão. Guarda, acumula, parasita e fere os incautos com sua língua em brasa e seu vômito quente. Não vive e tampouco doa, é um vampiro. Como sair desta encrenca? Cada um de nós terá a sua resposta, mas a que tenho tatuada em minhas costas diz apenas: follow your bliss. Ou como respondeu Campbell á pergunta de Moyers, sobre como fazer para destruir o dragão dentro de si: ‘ Persiga a sua bem-aventurança. Descubra onde ela está e não tenha medo de segui-la’.

Porque ao fim, ao salvarmos a nós mesmos, salvamos o mundo!

Cabala: Theth – Cobra.

Astrologia: Leão - Alegria de viver, vitalidade, coragem.

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terça-feira, 2 de setembro de 2008

X – A Roda da Fortuna, o Destino

Abordagem Visual

A amarela roda búdica, central, em contraste com o fundo violeta da carta, juntamente com os raios e os três animais bizarros presos (?) a mesma dão o tom desta lâmina. Ao fundo, meio apagado, há um triângulo de onde saem os raios ondulados que preenchem o espaço e acima um círculo onde as estrelas parecem pousar.

Mitologia e Tipologia

Temos três símbolos relevantes aqui: a roda, os três animais e os raios de Júpiter romano, ou Zeus grego.

Sempre tida como símbolo do deslocamento, da libertação das condições de lugar e do estado espiritual, dos ciclos e seus reinícios, das renovações, a roda sempre é um símbolo solar, em todas as tradições. Harris a desenha aqui como a roda que o Buda coloca em movimento, ou seja, a *Roda da Lei, o dharmachakra – a lei do destino humano, que porque assim é, não existe nenhum outro poder que seja capaz de inverter o sentido de rotação dela... Nesta linha de pensamento, encontramos então a Roda da Existência do Budismo tibetano que nos lembra que as mutações incessantes representam a sucessão dos estados múltiplos do ser: o samsara (fluir com) ou segundo Blavatsky, ‘ a corrente rotatória da existência individual’. Já Nichols a apresenta como sendo ‘ um recipiente que segura toda a natureza dentro de certos limites prescritos e, inversamente, como a própria fonte de energia com a qual podemos conscientemente transcendê-lo.’ Visto como mandala ou rosácea, Jung relacionava este símbolo ao self do homem transposto ao plano cósmico, ou seja, a unidade na totalidade. Centro místico ou cósmico, de qualquer forma, estamos sempre presos a ela. Tortuoso é o caminho da eternidade, já disse Nietzsche...

Aqui os animais, como em quase todos os tarôs de base, denotam tanto a tríade nascimento – envelhecimento – morte como a encarnação dos arquétipos dos animais retratados, aqui então como Anúbis, o deus com cabeça de cão que pesava a alma dos mortos, que ascende, Esfinge ou o arquétipo da mãe negativa, que está no topo e Tífon, deus da destruição/desintegração, que descende. Notar aqui que em Crowley, ao contrário de Marselha, a disposição descida-subida é *diferente. Segundo Nichols, a Esfinge aqui pode ser relacionada ao papel da feiticera Srinmo na roda da vida tibetana, ou seja, a dominadora cruel, o demônio feminino da morte, dando ao princípio feminino o poder implacável e monstruoso das fortunas rotativas da espécie humana. Anúbis, como divindade psicompômpica, simboliza a implacável acuidade do olhar justiceiro, ao qual nada escapa e que vela pela estrita execução dos ritos e leis humanas: ele é quem tenta equilibrar as forças adversas para fazer vitoriosas as forças da luz. Tífon, tão forte ou mais do que Zeus, meio homem, meio monstro, era tão alto que sua cabeça tocava as estrelas e suas mãos tocavam tanto o Oriente quanto o Ocidente. Conta a lenda que até hoje ele dorme sob o vulcão Etna, cujas chamas seriam seu vômito. Ele foi gerado pelo ciúme e vingança de Hera - por Zeus ter parido Atena – e assim vem violentamente para chocar-se contra o ideal de sabedoria desta última, personificando os sobressaltos de animalidade, vulgarização, embrutecimento, a suprema oposição ao espírito! Ou como lembra Jung, ‘ é a recusa da sublimação e a cedência as pulsões intrínsecas de violência.’ Tífon, o insurgente, é interpelado pela Esfinge no giro, que lhe pergunta: Quem és tu/ O que tu és? Nada sei, ele responde, porque eu só ajo e, imediatamente vem Anúbis para polarizar sua atitude. Ad eternum.

Júpiter/Zeus é o deus grego/romano supremo, divindade do céu, da luz diurna, do tempo que faz, dos raios e trovões. Na iconografia é representado pela roda como principal atributo! Astronomicamente, o planeta Júpiter ocupa o centro dos astros que giram em torno do Sol, encarnando na astrologia o princípio de equilíbrio, ordem, estabilidade, legalidade social, preservação da hierarquia estabelecida, ou apenas grande benfeitor. Por estas inúmeras razões, nada mais justo termos Júpiter como planeta deste arcano. Os raios, seus atributos, que aqui finalizam nas estrelas, simbolizam seu poder criador e destruidor.

Quem move a roda então são estas duas energias: Ação e Reação, Bem e Mal, girando e dando movimento á nossa vida. E, se as nossas vidas estão ligadas a um cíclico ir e vir de acontecimentos, sobre os quais não temos controle nenhum, não estamos presos a ela. Neste ponto, quem compreendeu isso pergunta: Quem sou eu para que isto tenha me acontecido? Mas quem está na beirada dela, tentando agarrar-se para querer seguir na espiral lamenta-se: Porque eu? Porque isso sempre me acontece ?

Quais são os nosso eternos retornos? Porque sempre estamos no mesmo caminho sendo atingidos pelas mesmas personas? Como esta Gestalt me atinge? Milagrosamente não fugimos ao destino tentando nos afastar dele, como fez Édipo, mas sim, tomando consciência do que atraímos e afastamos de nossa experiência em função de condicionamentos, julgamentos e pré-conceitos. Livres? Só mudando nosso ponto de vista, pensando de forma espiralada, não cartesiana. Deixando a roda girar, apenas colocando combustível, e lembrando que mesmo em Marselha, até este movimento é um não—movimento, haja visto que a roda está fixada...no mar...!

* Recomendo o filme A Roda da Vida, por Lama Padma Samten, onde ele explana a simbologia da mesma (aqui os três animais serão Javali, Galo e Cobra ou ainda nascimento, vida, decrepitude e morte) sob o ponto de vista budista tibetano. Interessantíssima a relação com a individualidade, através da separatividade.

Cabala: Kaph - Palma da mão

Astrologia: Júpiter - Sorte, abundância, crescimento.

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Compreensão Divinatória

Num nível profundo, parta do princípio de que tudo tem a sua razão de ser, mesmo que o sentido esteja oculto agora. Talvez ele fale sobre um caminho que corresponde à essência profunda do seu ser, porém não necessariamente como você havia controlado experenciar...Daí vem um dilema, pois geralmente sofremos quando algo se manifesta diferente do que imaginávamos, e não reconhecemos que essa experiência era exatamente o que faltava para a nossa felicidade, por corresponder profundamente à nossa essência. Ela recomenda:

- sentir um sentido de destino, usar o que as chances oferecem, deixar-se levar pela vida – seguindo o fluxo, achar oportunidade num evento sem sentido, abrir-se a sorte, sentir a ação do destino, acolher os milagres diários.

- estar num turning point, mover-se numa direção totalmente oposta á inicial, alterar o curso presente, deixar-se surpreender com alguns eventos.

- sentir o movimento, experimentar a mudança, entrar de cabeça nos novos desenvolvimentos, estar envolvido.

- ter uma visão pessoal, ver como as coisas se conectam, ficar mais esperto, descobrir padrões e ciclos, expandir seu conhecimento e contatos, ganhar uma perspectiva maior, descobrir seus propósitos e ideal de vida.

Complementação na Leitura Divinatória

- Dois de Espadas: estar num impasse.

- Quatro de Espadas: descansar, estar em paz.

- Quatro de Ouros: ação bloqueada, sem movimento.

- Sete de Ouros: análise antes de mudar a direção.

- Oito de Paus: desenvolvimentos rápidos, muito rápidos.