sábado, 13 de setembro de 2008

XII – O Enforcado, a Prudência


Abordagem Visual

Num ambiente em tons frios de azul e verde, com um fundo formado por uma grade azul quadriculada, pende uma figura nua de cabeça para baixo, presa pelo pé esquerdo numa cruz egípcia (ankh), com as pernas cruzadas formando o número quatro. Seus braços estão formando um triângulo e abaixo deste há uma grande serpente preta. Notar que seus membros encontram-se presos nesta grade sob círculos verdes através de pregos, numa alusão a crucificação cristã.


Mitologia e Tipologia

Além do homem nu, impávido, diria em estado meditativo, que é o motivo central da lâmina dois elementos chamam a atenção: a cruz egípcia acima e a serpente abaixo de seu corpo.

Geralmente o deus-salvador da maior parte das religiões está associado ao arquétipo do Enforcado: Jesus crucificado na cruz, Odin pendurado no freixo, Osíris retalhado e encaixotado, Prometeu acorrentado, Baal comendo lama. Mais sorte tiveram Buda, Thot e Quetzalcoatl, mas isso é outra estória... Nosso herói aqui está suspenso entre os dois pólos de sua existência, simbolizados pela Ankh e a serpente negra. Em total isolamento, talvez se sobreviver a este penduramento ritual poderá encontrar um novo caminho, até então desconhecido. Suas mãos e pés estão fortemente presos, o que nos fala que nada poderá fazer, a não ser talvez rezar e aguardar um salvamento. Jung fala que quando estamos abandonados á nossa sorte, nos sentindo talvez traídos e friamente sós, é nesse momento que ‘... descobrimos o que nos sustenta quando já não podemos nos sustentar. Somente esta experiência poderá nos dar uma base indestrutível’. O pé esquerdo (inconsciente) do homem é fixo á cruz por uma serpente e aqui ele pode ser interpretado como a força da alma, no sentido de ser ele o suporte da nossa posição vertical.

A cruz Ankh ou nó mágico é um signo que exprime a conciliação dos contrários, integração dos princípios ativos e passivo. Nas mãos dos mortais ela fala do desejo de uma eternidade venturosa, e segundo Cham, ...’ ela figura o estado de transe, no qual se debatia o iniciado; mais exatamente ela representa o estado de morto, a crucificação do eleito (!) e em certos templos o iniciado era deitado pelos sacerdotes num leito em forma de cruz. ‘ E ainda: ‘ Aquele que possuísse a chave geométrica dos mistérios esotéricos sabia abrir as portas do mundo dos mortos e podia penetrar o sentido oculto da vida’. Quando colocado na fronte dos faraós este símbolo era para lhes conferir a visão da eternidade para além dos obstáculos ainda a vencer. A serpente negra abaixo de sua cabeça pode ser a psique inferior, o psiquismo obscuro, o que é raro, compreensível e misterioso. É um dos mais importantes arquétipos da alma humana.

Estes dois símbolos e sua atuação no arquétipo do Enforcado são muito bem unificados num relato de Weir Perry acerca de um episódio esquizofrênico, descrito em Nichols: ‘ Mercê da ativação do insconsciente e do colapso do ego, a consciência é dominada pelos níveis profundos da psique e o indivíduo se vê vivendo uma modalidade psíquica muto diferente do seu meio. Sente-se isolado porque não encontra compreensão deste mundo por parte dos que o cercam. O medo da opressão e do isolamento produz uma onda de pânico, qe o impele para um afastamento agudo’.

Oras, quem é o enforcado? Somos nós, sempre que absortos por paixões, tiranizados por idéias alheias e sentimentos arrebatadores não temos consciência desta escravidão. Mas, neste momento, de inatividade introspectiva, submissos ao destino ou deliberadamente dispostos a entrarmos ‘para dentro’ encontramos um momento de salvação, que poderá se prolongar caso aceitemos o não-movimento e a resoluta imobilidade. Aceitando o que as moiras nos trouxerem, entregando nosso ego a um poder superior, nos deixamos levar para sermos encontrados! O nada-fazer, contemplativo e meditativo da Sacerdotisa aqui é manifestado, muito atuante, inclusive fisicamente, como atestam os os yogues, na posição onde erguidos pela cabeça e com os braços apoiados no chão buscam uma maior concentração intelectual através de uma regeneração e de uma circulação de forças de baixo para cima.

Prometeu está como figura central em Greene e, aqui ele é o herói que criou o primeiro homem usando o barro, sendo um grande benfeitor da raça humana. Quando Zeus oprimiu os homens e os livrou do fogo, Prometeu o devolveu aos homens e lhes ensinou várias artes. Foi punido por esta rebeldia sendo acorrentado por Hefesto a mando de Zeus, em uma rocha inacessível no monte Caucáso, onde diariamente uma grande águia vinha bicar-lhe o fígado. Sendo ele imortal, este se refazia a noite, tornando sua punição terrível pelas dores atrozes. Foi salvo um bom tempo depois em troca da imortalidade de oferecida a Quíron, o curador. Este mito marca o advento da consciência, o aparecimento do homem, e a ave bicando o fígado simboliza a culpa reprimida e não expiada. Entra aqui também, como ilustração ao arquétipo em pauta, o Mito de Prometeu, que nada mais é do que a vontade de intelectualidade acima dos deuses, no caso, dos pais, da sociedade, dos professores, que, se levada aos extremos, pode crucificar o indivíduo na árvore do conhecimento para sempre. Porque aqui o espírito estará sendo utilizado não por si mesmo, para a espiritualização progressiva de si, mas com fins apenas de satisfação pessoal. Então, vem o Universo e dá uma rasteira no sujeito, imobilizando-o, para que ele perceba que não pode ser mais do que a Consciência Una.

A escolha da liberdade do rochedo por méritos positivos está ao alcance de todos. Conscientemente, com aceitação do sacrifício e muita paciência, apenas.

Cabala: Mem - Água.

Astrologia: Elemento Água - Entrega, espiritualidade.

Número 12: Site sobre símbolos, excelente!

Compreensão Divinatória e a Complementação na Leitura Divinatória acessíveis a um click!

Um comentário:

Anônimo disse...

Creio que aqui, o seu significado Água para a letra hebraica indicar que somente desenvolvendo esta qualidade fluídica e capaz de contornar os obstáculos, não ficamos a mercê das cordas que prendem o Enforcado...

Super-completo!

Beijus!

Adash