sábado, 30 de agosto de 2008

Tarot Revelations

Desconhecia que Joseph Campbell, juntamente com Richard Roberts criou um tarô, intitulado Tarot Revelations. Surpresa maior foi, coincidentemente, dar-me de cara com o miolo central do livro abaixo relatando o que JC pensava acerca destas lâminas.

Interessantíssimo e muito recomendável aos pesquisadores sérios desta mitologia em cartas...

Campbell: A pergunta mais interessante foi quando eu estava dando um seminário aqui em Esalen, em 1967. Alguém perguntou: “ Qual é o simbolismo do baralho Waite de cartas de tarô?" . Bem, eu nunca pensara naquilo. Eu ja vira baralhos de tarô e pude me lembrar do meu velho mestre Heinrich Zimmer, proferindo palestras sobre estas cartas, e me lembrei de seus comentários sobre o tarô. Então falei: “ Bem, dê-me um baralho de tarô e deixe-me leválo para o quarto. De manhã eu lhe direi o que descobri.”

Foi muito empolgante. Tive a sorte de reconhecer algumas sequências nas cartas. Há uma para as Quatro Idades do Homem; a Juventude, a Maturidade, a Velhice e o que Dante chama Senilidade. Ou Decrepitude. Dante discute isso extensamente no seu Convívio.

Então, no seu desdobramento, vi outra sequênca em que havia uma mulher despejando água ou algo de uma vasilha azul para uma vermelha, e era a carta chamada Temperança. E a sequência seguinte era o Diabo, o Inferno. E a próxima, um raio atingindo uma torre, a Torre da Destruição, que é o signo tradicional para o Purgatório, como sabem, a torre do mal sendo esmagada pelo raio usado por Deus para destruir todos os relacionamentos do nosso rígido sistema do ego. E a quarta carta era o início da vida, o Paraíso, duas vasilhas vermelhas sendo despejadas mundo abaixo. La vita nuova (Vida Nova) de Dante, despejada da vsailha física para a espiritual.

Colocando as quatro sequências de um lado e as outras quatro do outro, tudo resultava em um belo sistema que interpretava as transformações dos relacionamentos psicológicos não somente por meio dos quatro estágios da vida humana, mas também na mudança de enfoque do que é meramente material para as idéias mais espiritualizadas.

Os quatro naipes são interessantes porque esse é um barlho medieval. A primeira referência ao tarô vem de cerca de 1392, de um baralho que foi feito para o Rei Carlos I da França. Isso foi logo depois da morte de Dante, mas estamos no mesmo campo de Dante. Também é medieval. Os quatro naipes são espadas, que representa os aristocratas, a nobreza; copas que representa o clero da missa católica; ouros que representa as propriedades adquiridas com o dinheiro; e paus, ou bastões, que são os camponeses. Essas eram as quatro castas da tradição medieval.

Há dois estágios na vida. Um é aquele em que entramos na vida e atinge um clímax por volta dos 35-40 anos, e o segundo é aquele em que se deixa a vida. E os quatro naipes têm a ver com o fato de se entrar na vida por meio de uma outra ocupação, conforme a tarefa que se vem executar. E depois vem a grande suíte, no final, a das Honras, o Arcano Maior, que tem a ver com o caminho místico. Aquilo tudo funcionava assim; estava tudo bem ali na minha frente. Foi uma experiência fascinante, a mais interessante que já tive aqui.

O tarô, como sabem, é um baralho usado pelas cartomantes para ler a personalidade das pesoas etc. E assim que eu o olhei, ele se mostrou como um todo, e percebi que representava um programa para a vida derivado da consciência medieval européia. E com efeito trazia, de forma simbólica muitas das implicações da filosofia de Dante. Foi isso que realmente me surpreendeu.

Dante morreu em 1321 e as primeiras provas que temos de cartas desse tipo vêm de sermôes feitos por volta desta data, contra o uso das cartas, e então nos perguntamos: “ Porque contra estas cartas?” . E descobrimos a razão disso quando examinamos melhor o assunto. Basicamente é a filosofia agnóstica que está contida nas cartas. Para sermos mais precisos, há uma idéia na ortodoxia cristã de que o fim do mundo se aproxima. Esse é um símbolo mitológico, o fim do mundo, interpretado em termos de um acontecimento histórico; para o cristão ortodoxo, tem de ser um acontecimento histórico. Mas os símbolos mitológicos não se referem a acontecimentos históricos e sim, espirituais. O fim do mundo é um evento espiritual, não histórico.

(...)

Arrien: Você acredita em tarô? Sei que pode ler as cartas. Mas acredita no que lê?

Campbell: Não, não acredito em nada disso. Apenas vejo. Posso demonstrar como funciona e perceber sua beleza.

Arrien: Mas você não acredita que o tarô possa lhe dizer tudo?

Campbell: Ele pode nos dar um programa para a vida, o que são os problemas nos diferentes estágios da vida e o que são as atitudes espiritualmente mais baixas ou elevadas em relação ás experiências da vida nos diferentes estágios. É uma coisa maravilhosa.

Arrien: Acha que se pode ver o Reino nessas cartas?

Campbell: É claro que se pode. No tempo da Depressão, na Grande Depressão, havia um velho pregador, Padre Divino. Costumava fazer sermões maravilhosos e depois dizia: “ Será que vocês não podem ver o mistério, será que vocês não estão felizes com isso? E todos respondiam: “ Sim, oh Senhor!”. Bem, será que você não fica feliz com isso?

Arrien: Sim, sim, é maravilhoso.

Campbell: Sim. Acontece somente que isso não nos foi ensinado. Esse é o maior problema. Não acho que foi por malícia; apenas essa não é uma idéia presente na história de nossa cultura. É uma coisa que foi escondida por um ou outro motivo e a menos que se chegue a isso não poderemos compreendê-la. Mas basta ter uma pequena pista...e o tarô é uma pista, e então não há nada de difícil nele.

Arrien: você falou também que o tarô era bastante acessível. Isso constituá uma ameaça á Igreja?

Campbell: Não sei. Não sei qual era a situação real. Há apenas essas poucas pista, pelo que sei, vindas do século XIV par nos informar de que algo estava para acontecer. Outra coisa é que muitas pessoas acham qu o tarô vem do Egito. Mas ele é inteiramente medieval, o simbolismo é medieval; é uma idéia européia.

A Jornada do Herói, Vida e Obra de Joseph Campbell.

Organização e Prefácio de Phil Cousineau.

2 comentários:

Anônimo disse...

Interessantíssimo, adorei!

Embora preso a alguns conceitos da cultura da época, pelo que entendi, parece que ele realmente teve um vislumbre de algo a mais, vindo do Tarot!

Vou ver se encontro as imagens que eles criaram!

Abração!!

PS. Obrigado pelo link!!!

Anônimo disse...

Adicionei o Mithot à lateral do Zephyrus também (o "prana" entra no endereço somente porque "zephyrus" sozinho não estava disponível...rs).

Gostei muito do que vi por aqui. Depois volto com calma para comentar.

Quase comprei Tarot Revelations há muitos anos. Fiquei na dúvida, levei outra coisa, me arrependi, voltei no dia seguinte e ele não estava mais na prateleira - e já era um título esgotado na época. :(

[]'s